quarta-feira, 18 de maio de 2011

Reviver*

Já tinham passado duas horas e ele continuava na beira da cama a olhá-la, sem saber o que dizer quando ela acordasse, só tinha vontade de a abraçar e nunca mais a largar mas sabia que ela estava demasiado magoada para o deixar fazer isso. Sabia que agora tinha de ir com calma, sabia que ia ser difícil mas ele não tinha feito aquela viagem para nada, ele não sairia daquela casa até resolverem tudo. Até poder estar de novo com ela. Ele iria esperar acordado o tempo que fosse necessário, ele iria estar bem acordado quando ela abrisse os olhos. Ele precisava de falar e ia fazê-lo mesmo ela querendo ou não, podia expulsá-lo mas ele não iria abandoná-la, podia ouvir um não mas ele ia lutar até ouvir de novo um sim.

(…)

Estava exausto, pela espera, pela esperança e pela angústia quando reparou que ela se começava a mexer e a agitar na cama. O nervosismo aumentou mas ele sabia que a única solução era falar-lhe directamente do coração e ele ia fazer isso e iria deixar o orgulho de parte. Ia mostrar-lhe um novo Pedro, iria surpreende-la.

- Que estás aqui a fazer? – foi a única coisa capaz de dizer.

- Ver-te, lutar por ti, amar-te. Aqui faço tudo isso e mais ainda. Estou ao teu lado e não vou deixar de estar. Estive aqui todo o tempo a pensar no que te poderia dizer e sinceramente agora continuo a fazer a mesma pergunta a mim mesmo. Não sei o que te dizer, não sei o que fazer. Só tenho uma certeza neste momento, amo-te e não vou sair daqui nunca.

Ela estava estupefacta, extasiada, admirada, mas a dor continuava lá.

-Não vais conseguir nada. Eu não sou capaz de esquecer tudo o que eu passei. Acho que tu nunca foste capaz de imaginar o que eu chorava, o que eu sofria, vias todos os dias o meu sorriso mas nunca foste capaz de decifrar o que estava por trás dele, nunca nem por um momento me encostas-te à parede e me disseste que eu mentia quando dizia estar bem, então diz-me, se me amas como não foste capaz de ver a dor que eu sentia? Como é que fazias de conta estar tudo bem, COMIGO NÃO ESTAVA À MUITO TEMPO! Eu fartei-me que mesmo sem dares conta me deixasses em segundo plano, que mesmo sem dar conta me magoasses ao mostrar que te esquecias de mim, mesmo sem dar conta estavas distante. Chorava todas as noites agarrada à minha almofada e ao teu peluche a julgar que te estava a perder e sem dar conta quem foi perdendo fui eu, mas foi o meu amor por ti. Pedi-te para delineares as tuas prioridades, os teus deveres, o que devia ou não estar em primeiro lugar e tu nunca entendeste, sempre me senti culpada por julgar ser a causa do que já tinhas abandonado e foste TU que me fizeste sentir isso. Aquilo que dizias, as conversas que tínhamos e tu dizias “aquilo faz-me falta”, nunca te disse “deixa isso”, mas dizia “põe limites”, nunca o fizeste agora não és ninguém para me continuar a fazer sofrer, se eu te deixei sozinho foi porque me cansei de lutar, as forças foram-se como se o vento as levasse. Eu amo-te como amei desde sempre mesmo sem saber sempre amei, sempre estive lá para ti, acho que tive durante muito tempo medo deste amor e por isso fugia dele e quando decido lutar do teu lado tu começas a errar. Arrependo-me por me ter posto lado a lado contigo para lutar, era mais feliz quando não estava, era mais feliz e sentia-te mais feliz. Diz-me só como foste capaz de deixar isto assim? Odeio-te por me fazeres amar e odiar ao mesmo tempo! Porque não me deste ouvidos? Eu não te pedia muito! Pedia-te atenção, tempo, carinho. E tu não davas duas coisas ao mesmo tempo, para dares algo para te preencher aquilo que mais te preenchia ficava mais atrás, ERRADO! Não era mais fácil teres deixado tudo assim? Deixa-me assim, hoje mal, amanhã melhor. Vai-te embora.

O menino durão, forte, insensível chorava agora como se um bebé se tratasse. Ela tinha toda a razão, mas que idiota andou ele a ser, porque não lhe deu ouvidos e não viu o quanto ela sofria, porque não estava do lado dela quando ela precisava, porque achou sempre que podia fazer tudo e ela lá estavam.


- Era fácil, mas também teria sido fácil se me deixasses à muito tempo e não deixaste! Se lutaste porque não o vou puder fazer agora. Eu sempre achei que precisava daquilo e preciso mas não tanto como julgava. Deixa-me corrigir o erro, deixa-me tirar essa dor de dentro de ti e fazer-te feliz como antes, não imaginas a dor que eu sinto, a raiva e o ódio que tenho por mim. Tantas vezes te tratei mal desnecessariamente. Eu faço tudo o que for preciso para te recuperar, és a minha princesa, sempre foste desde o primeiro dia em que te vi. Passamos tantos momentos maravilhosos nós precisamos disso de novo, vamos passá-los de novo meu amor.

- Fui? Não foi essa a ideia com que fiquei quando insinuaste que deixavas tudo para trás por minha causa! Não vou viver um amor de rancor. Não ia ser feliz.

Inesperadamente ele levanta-se e começa a cantar, ela estava boquiaberta, dois anos e não sabia que ele cantava, que ele podia ser assim, ele era perfeita e ela sabia-o.

- “Podem passar mil anos que da minha memória, ninguém te vai tirar, podem vir oceanos apagar a nossa história que nada vai apagar, eu fico aqui à espera de quem nunca esqueci, e podes ter alguém a teu lado e eu para ti já nem ser passado mesmo assim eu vou esperar por ti, posso ate passar uma vida e morrer sem que sejas minha mesmo assim eu vou esperar por ti. Pode acabar o tempo que no fundo da alma nunca te vou esquecer, pode soprar o vento que não leva esta chama, é o que me faz viver, estar aqui à espera de quem nunca esqueci. Enquanto houver universo e as estrelas tiverem luz, a luz do meu pensamento és tu.” Amo-te e nunca te vou deixar, eu espero.


E abraçou-a com a maior força, a força que ele sabia ter mas não a usava, tocou-a como não o fazia à muito tempo e sentiu que ela era a mulher da sua vida. Desejava ficar assim até o mundo parar e fechou os olhos.



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me ;)

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Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat.